“Porque o Botafogo se chama Botafogo? É evidente que um clube que surgiu no bairro carioca de Botafogo tinha tudo para levar este nome, embora seus fundadores, num rasgo de profundo mau gosto, tenham batizado o clube recém-fundado de Eletro Clube. Mas como até mau gosto tem explicação, a idéia de chamar o Botafogo de Eletro Clube nasceu dos parcos recursos financeiros dos fundadores, que, dispostos a economizar ao máximo, decidiram aproveitar um velho talão de recibos do Eletro Clube – uma extinta associação de pedestrianismo – para cobrar as primeiras mensalidades. De qualquer modo, o nome Eletro Clube durou pouco. No dia 18 de setembro, pouco mais de um mês passado da reunião no casarão de Humaitá, a avó de Flávio ramos, Dona Chiquitota, exigiu que a garotada trocasse o nome do clube para Botafogo, mais precisamente Botafogo Football Club.
Mas cabe uma nova pergunta: por que o bairro de Botafogo leva este nome? Aí as pesquisas têm que recuar bastante, beirando os 500 anos de descobrimento que o Brasil um dia vai fazer. A história, na verdade, começa com D. João III, décimo-quinto rei de Portugal, cognominado o Piedoso, nascido em Lisboa, nos paços do Castelo em junho de 1502. A partir de 1519, quando foi aclamado rei, com a morte de seu pai, D. Manuel, D. João III decidiu reaparelhar – ou tornar mais poderosa – a sua frota marítima, mandando construir um gigantesco galeão que fosse imbatível. Construído nos estaleiros de Lisboa, o novo barco de guerra português deslocava mil toneladas, possuía parte da proa em ferro fundido – para rachar ao meio a snaus inimigas – e, mais que isso, tinha um até então desconhecido poder de fogo: 200 peças de artilharia pesada.
Dom João III, católico fervoroso, chamou o seu barco de São João Batista, mas pouco depois de sua estreia nas batalhas navais, em razão do gigantesco poder de sua artilharia, que transformava em fogo tudo o que suas peças atingiam, o galeão São João Batista ganhou o apelido de Botafogo. O Botafogo de Dom João III era tão eficiente, tão atemorizador, que o rei de Portugal, atendendo a insistentes pedidos de Carlos V, alugou seu passe à Espanha. E Carlos V não se fez de rogado: pagando tão caro por um barco tão poderoso – ficou encarregado de pagar os salários da tripulação e dos eficientes artilheiros portugueses – tratou logo de estrear o Botafogo contra a pirataria árabe Barbarroxa, em Tunis. O Botafogo fez um estrago terrível e voltou a Portugal glorioso, transformando-se no mais poderoso barco de guerra da Europa.
Daí em diante é mais fácil se chegar ao Botafogo de Futebol e Regatas, o aniversariante de hoje. Os feitos do galeão Botafogo foram tão extraordinários que os nobres portugueses ficaram logo excitados com a possibilidade de ostentar o brasão Botafogo criado pelo rei. E em poucos anos já se pôde encontrar em Portugal, mais precisamente na cidade de Elvas, um tal João Gonçalves Botafogo e, pouco depois, um Pedro Carvalho Botafogo, que chegou a tirar carta de brasão e de armas em maio de 1571. E foi assim que, depois de cruzar mares jamais navegados, desembarcou no Rio de Janeiro a figura de João Pereira de Sousa Botafogo, lugar-tenente do então Governador-Geral Antônio Salema. E João Pereira foi um tão bom ajudante de Salema que recebeu, de presente, duas sesmarias: a de Francisco velho e a de Inhaúma. A de Francisco Velho, situada numa belíssima enseada e compreendendo terras a perder de vista pelo seu interior, viria a se chamar, mais tarde, Botafogo – o bairro de Botafogo de hoje em dia.”
Referências: Jornal do Brasil, 12.08.1984; texto de enquadramento de Rui Moura (Mundo Botafogo); notícia digitalizada e gentilmente cedida por Mauro Axlace, colaborador do Mundo Botafogo e editor do blogue Aqipossa.
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